SUKOLOVA - Coração de Atleta
Carlos Bomfim
Estou de pé, no meio de um gramado.
Bem no centro, no encontro de linhas apagadas.
Na interseção de quadrados e pedaços que já não existem mais.
Sinto-me profundamente só, desamparado.
Agora, estou num deserto.
A areia arremessada pelo vento machuca e corta meu corpo. Curva-me, açoita-me.
O que mais me assusta, e dói, é minha alma que está sendo arrancada de mim, do meu corpo, do meu ser.
Metade já está fora dele E a outra se prende ao pouco que resta de mim.
Luto para vencer o vento, mas ele me conhece profundamente. Me joga de um lado para outro. Para qualquer lugar, para onde ele quer.
Já fui bem mais forte, antes, sinto que minhas forças estão se esvaindo, agora!
O vento que suspende a areia, e revolve minhas vontades, esconde meus caminhos.
Não sei mais para onde ir. Só me resta voltar.
Mas voltar é enfrentar o vento e a areia. É seguir no sentido oposto. É enfrentar o medo.
Levanto o olhar e abro os olhos, cego, sinto a areia a furar e a apedrejar.
Pisco. Umedeço meus olhos com lágrimas.
Já não são mais lágrimas, são rios caudalosos, cheios de pedras que se escondem, prontas para me furar.
Temo por ter que encontrar a queda, as pedras, as perdas, a cachoeira.
Nado. Luto.
Jogo meu corpo para frente, para os lados, para cima para baixo.
Respiro, suspiro, desespero. Penso em me entregar.
Já não quero mais lutar!
Solto meu corpo e me entrego.
Minha força está no fim. Nada mais vale.
Afundo lentamente.
Estou num lago e sinto meu corpo bater na areia branca, bem no fundo.
Os raios de sol não conseguem chegar lá.
Tudo está silencioso e muito escuro. Estou só. Sempre estive só.
Deixo-me deitar, entregue, sem vida.
Adormeço.
Acordo de um provável último suspiro, abro os olhos e me lembro de que não morri.
Lembro-me de que sou uma atleta. Lembro-me de que fui treinado para lutar. Lembro-me de que sempre que precisei encontrei em mim mesmo a força para vencer, e de que nunca é hora de se entregar e desistir.
Sou um atleta, sou treinado para lutar.
De um salto, levanto. Fico de pé. Ergo meu olhar. Quero ver, quero enxergar!
Já estou no meio do gramado, mas não me sinto mais só.
Vou ao centro do deserto, andando, e o vento não mais me domina. Meu corpo sente a areia, mas ela não mais me corta e açoita, apenas vem ao meu encontro para me testar.
Entro no rio, porque quero! Desafio quem quer me dominar. Nado, respiro, bato os braços, as pernas, e venço!
Descanso no remanso, sobre as pedras que queriam me furar.
Estou flutuando no lago. Sou leve, não posso e nem quero afundar.
Olho para o sol que brilha sobre mim e não cego. Não temo ver e nem fecho o olhar.
Lembro-me de que sou um atleta, treinado para lutar.
Minha alma retorna, ávida, decidida, e se une mais forte a mim, e mais forte ainda a ela mesma.
Somos de novo um. Somos eu e a outra metade de mim.
Completo, confiante, revivido, jogo, venço, luto, até terminar .
Me arrumo, me preparo, me concentro.
Porque, hoje, como todos os dias da minha vida, preciso jogar, porque sou atleta e sou treinado para lutar. http://www.otc-certified-store.com/obesity-medicine-usa.html http://www.otc-certified-store.com/respiratory-tract-medicine-europe.html www.zp-pdl.com